Você já se perguntou como surgiu o pastel de feira, aquele salgado frito e crocante que é recheado com carne, queijo, frango, palmito ou outros ingredientes, e que é servido com molho de pimenta ou vinagrete? Pois saiba que essa iguaria tem uma origem multicultural, que envolve a influência dos imigrantes japoneses e chineses que chegaram ao Brasil no século XX. Neste artigo, vamos contar um pouco dessa história e mostrar como o pastel de feira se tornou um dos símbolos da gastronomia de rua do Brasil.
A chegada dos imigrantes japoneses e chineses ao Brasil
O Brasil é um país formado por diversas etnias e culturas, que contribuíram para a formação da sua identidade nacional. Entre esses grupos, destacam-se os imigrantes japoneses e chineses, que chegaram ao Brasil em diferentes momentos e por diferentes motivos.
Os imigrantes japoneses começaram a vir para o Brasil em 1908, quando o navio Kasato Maru trouxe os primeiros 781 japoneses, que vieram trabalhar nas fazendas de café do interior de São Paulo. Essa imigração foi motivada pela crise econômica e social que o Japão enfrentava na época, e pelo acordo entre os governos japonês e brasileiro, que facilitava a entrada dos japoneses no Brasil. Até 1941, quando a imigração foi interrompida pela Segunda Guerra Mundial, cerca de 190 mil japoneses vieram para o Brasil, sendo a maior parte deles para São Paulo, mas também para o Paraná, o Mato Grosso do Sul e outros estados.
Os imigrantes chineses, por sua vez, chegaram ao Brasil em duas ondas principais: a primeira, entre 1812 e 1814, quando cerca de 300 chineses vieram para o Rio de Janeiro, a convite do rei Dom João VI, para introduzir o cultivo do chá no Brasil; e a segunda, entre 1900 e 1940, quando cerca de 15 mil chineses vieram para o Brasil, principalmente para São Paulo, para trabalhar nas obras ferroviárias, nas indústrias e no comércio. Essa imigração foi motivada pela superpopulação e pela pobreza que a China enfrentava na época, e pela demanda por mão de obra barata no Brasil.
A adaptação dos imigrantes japoneses e chineses à cultura brasileira
Os imigrantes japoneses e chineses que chegaram ao Brasil enfrentaram diversas dificuldades para se adaptar à cultura brasileira, que era muito diferente da sua. Eles sofreram com o preconceito, a discriminação, a exploração, a língua, o clima, a alimentação e a religião. Para preservar a sua identidade, eles se organizaram em comunidades, onde mantinham os seus costumes, as suas tradições, a sua língua e a sua religião. Eles também criaram associações, escolas, jornais, templos e outros espaços de sociabilidade e de apoio mútuo.
No entanto, os imigrantes japoneses e chineses também buscaram se integrar à sociedade brasileira, aprendendo o português, participando da vida política, social e cultural do país, e interagindo com outros grupos étnicos. Eles também contribuíram para o desenvolvimento econômico, científico, artístico e gastronômico do Brasil, trazendo os seus conhecimentos, as suas técnicas, os seus produtos e os seus sabores.
A origem do pastel de feira
Um dos exemplos mais emblemáticos da contribuição dos imigrantes japoneses e chineses para a gastronomia brasileira é o pastel de feira, que tem a sua origem na fusão das culinárias desses dois povos.
Segundo uma das versões mais aceitas, o pastel de feira surgiu na década de 1930, em São Paulo, quando os imigrantes japoneses começaram a vender nas feiras livres um salgado frito chamado “yaki-soba”, que era feito com macarrão, carne e legumes. No entanto, como o macarrão era caro e difícil de encontrar, eles resolveram substituí-lo por uma massa fina e elástica, que era feita com farinha de trigo, água e sal, e que era inspirada na massa usada pelos imigrantes chineses para fazer o “guioza”, um tipo de pastel cozido no vapor. Assim, eles criaram um novo salgado, que era recheado com carne moída e frito em óleo quente, e que logo caiu no gosto dos brasileiros.
Outra versão, menos conhecida, diz que o pastel de feira surgiu na década de 1940, no Rio de Janeiro, quando os imigrantes chineses começaram a vender nas feiras livres um salgado frito chamado “rolinho primavera”, que era feito com uma massa fina e crocante, recheada com carne e legumes. No entanto, como os brasileiros preferiam uma massa mais macia e grossa, eles resolveram adaptar a receita, usando uma massa mais parecida com a usada pelos imigrantes japoneses para fazer o “yaki-soba”. Assim, eles criaram um novo salgado, que era recheado com diversos ingredientes e frito em óleo quente, e que logo se espalhou pelo país.
A popularização do pastel de feira
O pastel de feira se tornou um sucesso entre os brasileiros, que passaram a consumi-lo nas feiras livres, nos mercados, nas lanchonetes e nos bares, acompanhado de um caldo de cana ou de uma cerveja gelada. O pastel de feira também se diversificou, ganhando novos recheios, como queijo, frango, palmito, pizza, camarão, bacalhau, banana, chocolate e outros. Além disso, o pastel de feira se adaptou às diferentes regiões do Brasil, recebendo nomes e características locais, como o “pastel de vento” do Rio de Janeiro, o “pastel de angu” de Minas Gerais, o “pastel de forno” do Paraná, o “pastel de milho” do Nordeste, o “pastel de carne-seca” do Norte e o “pastel de nata” do Sul.
O pastel de feira se tornou um dos símbolos da gastronomia de rua do Brasil, representando a mistura de culturas, sabores e tradições que caracteriza o país. O pastel de feira também se tornou um patrimônio cultural imaterial de São Paulo, sendo reconhecido pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) em 2015.
Conclusão
Neste artigo, vimos como o pastel de feira, um salgado frito que é um dos símbolos da gastronomia de rua do Brasil, tem a sua origem na influência dos imigrantes japoneses e chineses que chegaram ao Brasil no século XX. Vimos também como o pastel de feira se popularizou, se diversificou e se adaptou às diferentes regiões do país, representando a riqueza e a diversidade da cultura brasileira.